O pum da vaca pode virar carbono neutro

A fórmula de cálculo do impacto do metano emitido pelos ruminantes entrou em discussão na FAO/LEAP- Avaliação Ambiental e Desempenho da Pecuária
 
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO-ONU) comemorou 40 anos no mês de outubro. Foi fundada em  16 de outubro de 1981. Data que também é o dia mundial da alimentação. Na comemoração a FAO e seus parceiros pediram  a todos para mostrarem  gratidão pelos alimentos que comemos e pelas pessoas que os produzem, plantam, colhem, pescam ou transportam. Eventos em mais de 150 países. 

Todos sabem do papel da FAO,  Segundo o The Good Food Institute (GFI), em 2019 a ONU divulgou um estudo afirmando que mais de 820 milhões de pessoas passam fome no mundo todo. Com a previsão de que até 2050 a população global deve chegar a quase 10 bilhões de pessoas, os números são ainda mais preocupantes.  E de outro lado sera necessário aumentar a produção de alimentos em 70 por cento.  Dito isso, sempre com embasamento cientifico, vamos a sustentabilidade, a preocupação com os gases de feito estufa e o caminho aberto para  mudanças dos cálculos do impacto do metano emitido pelos ruminantes que entrou em discussão na FAO e pode surpreender quem fez cara feia e  apontou o dedo para o pum das vacas.

No cálculo atual o metano teria entre 24 e 28 vezes mais capacidade de efeito estufa do que o co2. E isso transformou os bovinos em um dos maiores vilões do planeta entre arrotos e puns. Acontece que cientistas de vários países em especial Estados Unidos, China e Nova Zelândia estão comprovando que o pum  da vaca fica “só” 12 anos na atmosfera, um peido em termos evolutivos: ele é naturalmente oxidado e volta ser CO2. Gás Carbônico esse que será novamente absorvido pela pastagem, transformado em fibra, e começa o ciclo novamente: alimenta o gado, é digerido pelas bactérias do rumem, parte vira nutriente e parte vira gás metano, que será emitido e em 12 anos, voltará a estar disponível para a planta – não há aumento dos teores totais de CO2 na atmosfera. Isso é biológico, um “ciclo fechado”. Arroz é a mesma coisa, em áreas alagadas tem geração de metano  no solo alagado, metano esse vindo do próprio arroz que absorveu CO2 da atmosfera e transformou em celulose, que as bactérias transformaram em metano, e será oxidado novamente para o mesmo CO2 que o arroz absorveu, sem haver aumento líquido de GEE.

Vaca de malvada pode passar como carbono neutro

Resumindo: O  carbono que a grama absorveu se transformou em celulose, a celulose vai para  o rumem do gado, boa parte vai virar nutriente para o próprio animal  outra parte da celulose se transforma em CH 4,  gás metano. Esse metano vai para atmosfera e  depois de 12 anos  é oxidado sozinho, pelo  raio do sol e presença de oxigênio. Esse metano oxidado volta ser “CO2” que a pastagem absorveu, volta ser celulose   não tem acréscimo  de co2 na atmosfera isso é ciclo de vida. As diretrizes da Parceria de Avaliação e Desempenho Ambiental da Pecuária (FAO/LEAP) foram desenvolvidas principalmente para apoiar as avaliações básicas e o rastreamento do desempenho ambiental das cadeias de abastecimento da pecuária. Mesmo que os tipos de emissão de GEE sejam discutidos nas diretrizes do LEAP sobre a produção pecuária, nenhuma recomendação é fornecida para classificar o metano e outras emissões de GEE dependendo de sua fonte (emissões biogênicas versus não biogênicas) no estágio de inventário do ciclo de vida.

Um novo Grupo Técnico Consultivo será formado a fim de informar melhor as avaliações de gases de efeito estufa- GEE, ferramentas para estratégias de mitigação e comparações entre setores, por exemplo, pecuária versos transporte aéreo e produtos, por exemplo, têxteis de produção animal versos materiais sintéticos.

Os parceiros da FAO/LEAP solicitaram uma revisão técnica da orientação do LEAP sobre a classificação e avaliação do impacto do metano. Algumas das perguntas que o grupo técnico responderá incluem:

– É apropriado classificar e avaliar os gases de efeito estufa dependendo de sua fonte (biogênica vs. fóssil)?

– Qual é o balanço geral de carbono da produção de arroz?

– Qual é o balanço geral de carbono de um sistema de produção pecuária?

– Quais são as principais características e limitações dos indicadores atuais para    

   avaliar o impacto das emissões biogênicas nas mudanças climáticas?

– Que sinais as diferentes métricas fornecem aos tomadores de decisão em relação às

    estratégias de mitigação de emissões de GEE?

– Qual métrica usar para avaliações comparativas de emissões de gases de efeito estufa?

– É suficiente distinguir as emissões de GEE de sua fonte para comparar a pegada de carbono dos setores de bioeconomia com aqueles de fora?

– Como informar sobre o uso de recursos não renováveis ​​(por exemplo, fósseis)?

 
Os membros do grupo de trabalho vão ser  especialistas técnicos com grande experiência em um ou mais dos seguintes assuntos: ciência vegetal, ciência animal, avaliação do ciclo de vida, sistemas de produção animal, ciência do solo, ciência do clima, ecologia, química ambiental. Ter um histórico de pesquisas comprovado por meio de publicações revisadas por pares. 
 
O grupo está sendo formado e os candidatos devem enviar seus currículos ao Secretariado do LEAP (Livestock-Partnership@fao.org) até 28 de outubro de 2020. Os currículos devem incluir uma lista atualizada de publicações e experiências de trabalho. 
 
Trabalhar cientificamente e corrigir injustiças. Ótimas oportunidades para melhorar a imagem do Brasil com apoio da FAO. Torcendo para que pesquisadores do Brasil façam parte deste grupo. 

Marcelo Lara - Consultor de Comunicação

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