Acompanho o agronegócio desde 1992. Foram várias as transformações que fui percebendo ao longo deste tempo. Quando olho para as questões de mercado, no momento que o produtor tem que definir o que vai plantar, lembro que antigamente era um olho no preço e outro no custo. O “efeito manada” era algo que impressionava, se o milho estava bom nesta safra, na próxima sobrava produto e o preço despencava. A mudança agora vai desde a rotação de cultura, com maior planejamento, a diversificação de atividades e o preço por si só não é um balizador para fazer efeito de manada com o migrar, de vez, de uma cultura para outra. Dito isso vejo muitos especialistas preocupados com o que vem acontecendo este ano em relação aos preços da soja.
A tecnologia, quando o preço está bom, o produtor capricha e vamos superando a produtividade. Isso faz diferença. Mato grosso do sul, por exemplo, colheu 13 milhões de toneladas de soja e bateu recorde de produção. Fechou com 62,8 sacas por hectare. Região que chegou a 70 sacas de média. Estamos por volta dos $14 dólares/Bushel, esse é um balizador internacional, em 2004, lá atrás, passamos dos 10 dólares o bushel mas com dólar a R$3 reais. China importando muito, Estados Unidos e Brasil consumindo bastante para garantir a produção de carne e para suprir a demanda de carne para a china. Direta como grão e indireta pela carne. A diferença de preço, comparando com a safra passada, leva a pensar nesta migração, mas os produtores estão cada vez mais profissionais e não existe espaço para aventureiros ou amadores. Se estamos falando em R$180 reais a saca de 60 quilos Porto de Paranaguá, ou no mercado futuro preços para maio na média de R$175 reais, é um aumento de 69 por cento em relação aos R$103 reais pagos em maio de 2020. Temos vários motivos, como safra Argentina que restringiu a oferta da América do sul. Clima prejudicou.
Câmbio pode melhorar no segundo semestre, o melhorar que falo aqui depende para quem, falo em valorização do real. com avanço da vacinação e o cenário político e fiscal também entram nesta conta. A tendência de preço cair para a próxima safra, apontam economistas. O agro está em alta como um todo.
Planejar uma safra não é nada fácil, as tomadas de decisões ganharam diversos indicadores, que precisam de análise muito mais detalhada para qualquer tipo de mudança dentro da propriedade. Olhar a grama do vizinho, que está mais bonita, pode não ser uma boa alternativa para tirar as flores do seu jardim que já estão na roda viva, que é o ciclo de cada propriedade, do plantio a colheita.
Quando falamos em culturas como café, a tomada de decisão é ainda mais complexa. A soja entra em outro dilema e interfere também no biodiesel. Tem a pressão, o jogo de interesse em continuar para os próximos leilões a resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) que reduziu de B13 para B10, o percentual de mistura do biodiesel no diesel. Isso mexe com todo planejamento do complexo soja. Vale lembrar que o preço da soja em alta levou de arrasto o preço do sebo bovino também utilizado como matéria prima para biodiesel.
O atual cenário vira uma bola de neve, e mexer neste tabuleiro exige um planejamento de gente grande. Existe muito espaço para o milho, a conta nunca fecha para atender quem produz e quem depende do milho para pecuária. Planejar com estratégia definida para várias safras.
Marcelo Lara- Consultor de Comunicação