Quando falam em biodigestores lembro o meu primeiro contato com o tema na década de 1990. No Meio Oeste catarinense, na época trabalhava na RBSTV, fiz uma reportagem histórica em um antigo seminário, lá estava, um pouco enferrujado, todo o projeto que funcionou por um bom tempo abastecendo o seminário com biogás produzido a partir de dejetos da criação de suínos. De lá pra cá muita coisa mudou, claro. Entramos naquela onda de vender crédito de carbono, e muitos produtores entraram nesta onda, mas quem ganhou dinheiro mesmo foram empresas intermediárias que se aproveitaram do momento. Não generalizando, mas foi o que na época comprovamos. Os primeiros biodigestores na suinocultura comercial deram partidas em motores nas propriedades, e geraram energia para a rede. Teve toda uma discussão com a companhia de energia elétrica de Santa Catarina que não queria aceitar o fato do contador de energia na propriedade dar marcha ré com a entrada da geração feita pelos motores movidos com biogás. Foi um processo e uma mudança de conceitos. Parecia que ia deslanchar. Mas o processo ainda não tinha tecnologia para resolver um problema sério. Os motores não aguentavam e os investimentos foram reduzindo, demorou para aparecer uma solução, o projeto perdeu tempo e credibilidade. Resgatei um
O biodigestor moderno mudou o mercado e trouxe a solução para um problema que estava desestimulando novos investimentos. O biogás não tinha qualidade para garantir a longevidade dos motores que geravam energia elétrica. Redimensionaram os processos, reduziram o vapor de água e conseguiram evitar a rápida corrosão dos motores, que duravam no máximo 9 mil horas e, agora, podem passar de 80 mil horas de uso.
A principal mudança está no cálculo para definir o tempo ideal de retenção hidráulica, a água utilizada na indústria. Nos projetos antigos os técnicos acreditavam que quanto mais tempo de reação embaixo da lona melhor, e isso caiu por terra. Hoje se sabe que o ideal no caso das granjas que utilizam os dejetos de suínos, por exemplo, a retenção varia entre 18 e 22 dias, depois disso existe uma produção excessiva de nitrogênio. No caso da indústria de reciclagem esse tempo é ainda menor fica entre 8 e 11 dias. Tempo suficiente para consumir toda carga orgânica possível e produzir um gás de qualidade de 62 a 65 por cento de metano. Reduziram o vapor de água no processo e conseguiram evitar processos corrosivos dos motores.
Para entender melhor. Um biodigestor é uma câmara hermeticamente fechada onde matéria orgânica diluída em água sofre um processo de fermentação anaeróbia, o que resulta na produção de um efluente líquido de grande poder fertilizador e gás metano ou biogás. Um biodigestor nada mais é que um reator químico em que as reações químicas têm origem biológica.
O biodigestor modelo Canadense é um modelo tipo horizontal, apresentando uma caixa de carga em alvenaria e com a largura maior que a profundidade, possuindo, portanto, uma área maior de exposição ao sol, o que possibilita numa grande produção de biogás e evitando o entupimento. Durante a produção de gás, a cúpula do biodigestor infla porque é feita de material plástico maleável (PVC), podendo ser retirada
Temos linhas de crédito, Agricultura de Baixo Carbono. Santa Catarina por exemplo é o primeiro estado brasileiro a ter uma política do biogás e uma legislação própria sobre o assunto. Os avanços estão acontecendo. Precisamos sair dos ridículos 02 por cento de aproveitamento de todo potencial para ser explorado com biogás com tecnologia de primeira nos biodigestores e geradores. Bora incentivar.
As indústrias estão apostando na nova geração de biodigestores que vem sendo adotada no Brasil, tem projetos que fazem uma combinação perfeita que vai da produção de biogás até a engorda de gado na pastagem nutrida com fertirrigação.
Um exemplo vem de Minas Gerais. As quatro plantas industriais da Patense, indústria de reciclagem animal que produz farinhas de carne e ossos
A unidade de Tanguá no Rio de Janeiro processa produtos de peixe e trabalha com sardinhas pescadas exclusivamente para processar farinha. São processadas 200 toneladas de peixe in natura diariamente, a produção chega a 48 toneladas de farinha de peixe e 12 toneladas de óleo.
A água que vem da indústria é totalmente reusada através da irrigação gerando receita com a pecuária. O boi que engorda e gera receita é a ferramenta de todo projeto.
Em 2009 a empresa firmou uma parceria com a Universidade Federal de Viçosa. Os estudos revelaram que o capim vai puxando os nutrientes do biofertilizante e cresce, mas se não for podado no tempo certo ele acama e morre. O boi é a “ferramenta” do sistema, vai se alimentando e podando, são os brotinhos das plantas que absorvem os nutrientes. O gado faz parte do sistema, caso contrário seria necessária a contratação de mão de obra para cortar o capim e transformar em biomassa. No final, vai entrar nesta conta a receita com a venda do boi gordo.
O Biodigestor na unidade de Itaúna/MG desta empresa o maior projeto vai ter capacidade para processar 50 metros cúbicos por hora. São 50 hectares de pastagem e a engorda de – 300 cabeças. Olha como mudou o olhar sobre a questão dos biodigestores.
Conexão entre campo e cidade vem nesse ponto, na sustentabilidade, nas soluções onde todos saem ganhando.
Marcelo Lara Consultor de Comunicação.