Esta semana li uma reportagem que me chamou atenção, primeiro porque gosto de histórias de vida, e quando envolve japoneses eu já sei que é sucesso, admiro demais, pelas experiências que tive em diversas regiões do país. A manchete que me fez lembrar as viagens que fiz pelo Nordeste. Sempre com foco nas soluções para evitar o êxodo rural, encarando os efeitos da seca. “Casal de japoneses de 87 anos se muda para o Sertão do Ceará para realizar sonho. Claro que já fizeram todo um planejamento, tem condições de investir, foco, preparo, tecnologia, mas isso só reforça a coragem, não importa a idade, de mudar, de investir, de concretizar sonhos, e sem moleza encarar o sertão do Ceará.
Eles queriam plantar figo no semiárido nordestino e foram então para Tabuleiro do Norte. Reportagem que saiu no Diário do Nordeste. São 2730 quilômetros, saindo do interior de São Paulo para o Ceará. A história é de superação. Trabalharam sempre no campo. Um sonho atrelado a gratidão de deixar um legado no Brasil. Prosperidade para o sertão diante da desigualdade. O casal já produziu figo no estado de São Paulo. Figo vem de uma região que também é árida. Em 2019 compraram a propriedade no Ceará e levaram mudas de figo. Parece um retorno da saga dos mais diversos imigrantes que chegaram ao Brasil, como os italianos trazendo mudas de uvas conservadas em batatinhas.
“Não tem terra ruim e sim terra sem cuidado adequado e falta de dedicação” diz o seu Takeo . Plantaram 15 mil pés de figo e querem triplicar, servir de exemplo para atrair novos empreendedores e quem sabe transformar a região em polo de produção de figos. Já estão com figo doce embalado a vácuo, vendendo em Minas Gerais e são Paulo.
Assim é que funciona para empreendedores e é louvável, tem condições de fazer, tem boas intenções, gera emprego e renda em uma região, como sabemos, a seca castiga. Lembro bem de exemplos que na época que tive a oportunidade, em 2005, de visitar algumas propriedades pelo interior da Bahia. Retornei para o Nordeste em diversas reportagens mas naquela época foi especial. O semiárido é um desafio, vencido pela capacidade do nordestino e pela aposta em novos projetos. Lembro de dona Ana e seu Francisco que nunca perderam a esperança mesmo depois que 10 dos 11 filhos tinham abandonado a terra e foram para São Paulo, tentar a sorte. Só havia ficado um na terra vendo os animais morrerem de fome na propriedade. Se não tiver acesso a água, o êxodo rural é inevitável.
Os filhos retornaram, todos, porque dona Ana abriu um poço artesiano, com um pacote de investimento as através do Pronaf, linha e crédito especial, muitas vezes os recursos não são usados adequadamente, e o destino do investimento acaba em frustração. Neste caso o “tesouro do nordeste”, como eles falam ao ver a água jorrar, vem do subsolo, para produção de tomate e pimentão. Assistência técnica, acompanhamento, investimento correto, e muita determinação. A realidade é mais complexa do que os exemplos que citamos aqui, mas é assim que as transformações mais incríveis acontecem. É assim a transformação dos nossos solos, já que na última semana comemoramos o dia nacional da conservação do solo. Vale lembrar que todos somos responsáveis.
Qualquer tipo de deposição, descarga, infiltração, acumulação, injeção, ou enterramento de substâncias e produtos poluentes, em estado líquido, gasoso ou solido, nos solos e subsolos deve ser combatido. Levantamento da FAO/ONU aponta que 30 por cento das terras estão degradadas em todo planeta. A diversificação de culturas, o plantio direto, práticas que precisam avançar, recuperação de pastagens, tecnologia. Viva o solo que dá vida.
Marcelo Lara – Consultor de Comunicação